FERNANDA NEVES: O espírito e o estilo
Novo ideal de harmonia inventando configurações gestuais de uma qualidade expressiva inusitada, programando campos de conhecimentos onde se verificam casualidades.
A concepção é planificada, mas é livre a aceitação de acaso, segundo linhas articuladas perpendicularmente, que não negam a espontaneidade mas renovam propostas de direcção artística.
Chegar a uma forma de poesia plástica, entre a ordem - desordem, através de sugestões de tecidos (sedas, linhos…), ressonâncias ritmadas, índices de temperamento e reflexos de inclinação, modos elegantes e obstinados, definições de uma fenomenologia de meios e efeitos.
Pinta-se o modo como se pinta, um elogio de Faber na arte, conhecendo os limites, nunca os excedendo e nesse intervalo precário onde o espírito se instala com o maravilhoso à-vontade da mestria.
Ao considerar conhecer a obra de Fernanda Neves tal como se apresenta no seu capricho de assim existir, não há fronteira entre parecer e ser, não há representação mas presentação transfere-se o espírito a estilo.
O conhecido crítico de arte japonês Kaii Higashiyama escreveu que «a beleza do objecto permanece oculta ao intelecto que investiga de maneira analítica. O belo revela-se no sentimento que une o coração e a coisa». Assim é, com Fernanda Neves.
A sobriedade dos gestos aparentemente iguais, numa repetição programática, conduz-nos à noção de permanência. A eternidade no presente.
Pressente-se, em suma a beleza revelada à pintora e nela a sua dissolução.
Afonso Almeida Brandão
Critico de arte e jornalista
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